Fique em paz.

Zidane, a um passo de se tornar o maior jogador da Copa de 2006, deu seus chifres contra o peito do jogador italiano. Sem mais nem menos. Foi expulso, a França perdeu e ele encerrou sua brilhante carreira. Não com chave de ouro mas, com um punhado de terra sobre si.
Alguns carregam um Zidane em potencial dentro de si. Aliás, não só um, mas um verdadeiro time deles, que ignoram as consequências que possam ser avassaladoras para os outros e até para si próprio, e ficam quicando, trocando passes, treinando chutes, sempre prontos a dar uma rasteira no que conseguimos com tanto esforço e sempre com aquele ar de que estão acima do bem e do mal. Depois que nos distanciamos deles, ainda ficam surpresos. A questão é que eu não sei como lidar com esses Zidanes, me estatelo e só me dou conta quando já é tarde demais. Às vezes, acho que é culpa da minha mãe que me deu educação demais.
Os Zidanes tiram os dormentes dos trilhos que nos conduzem no caminho da paz, da harmonia, do amor, do bem-estar. Mentem covardemente, boicotam a vida que levamos, e todo aquele cenário de bem-estar que levamos tempo para construí-lo, desaparece. Como fumaça. E aí somem esses Zidanes, porque são fracos demais nessas horas para admitirem a culpa e olhar de perto o estrago que causaram.
E lá vem o desequilíbrio do corpo, da mente, da alma. O emocional fica no calcanhar e a dor custa a cicatrizar. Tenho que aprender a ouvir o que o meu corpo diz, para não dar mais outra pane. É mais uma boa pista para saber em que direção mudar. O tempo é ótimo pra isso. Ele cicatriza tudo e faz você esquecer da dor. E, por alguma ironia, você talvez ainda ouça te dizerem que nada mudou, mas tudo mudou. A reconstrução já não retoma à forma original, ela adquire uma outra cara, um novo pensar, um novo agir. E se encontrar com a paz novamente ainda tem um bom caminho pela frente. Insano pensar que você possa ouvir de algum Zidane a frase "Fique em paz"? Talvez não. Para eximirem a culpa, fazem qualquer coisa. E, claro, fazem isso perto de multidões, porque se tiverem que te encarar frente a frente, não o fazem sozinhos. Seria melhor se eles pudessem guardar pra si o cinismo e dizerem uma simples palavra: "Desculpe!"
Os Zidanes precisam aprender que todos, sem exceção, somos passíveis de erros e temos que admitir isso e não tentar mais uma vez virar o jogo pra ganhar em cima. Mais uma vez.