domingo, janeiro 11, 2009

Ensaio sobre a cegueira

Você está dirigindo seu carro e de repente, fica cego. Loucura, não? Agora imagina essa outra cena - Um dos personagens cego reclama com outro cego sobre as atitudes absurdas do vilão da história e comenta que o sujeito provavelmente seja negro. Escancarando seu racismo, não se dá conta de que o vilão é branco e seu confidente é quem tem o tom de pele que ele tanto despreza. Fantástica cena, inteligente, irônica. Nesta sociedade imperfeita em que vivemos, nossa visão muitas vezes nos cega para o que realmente importa e mantemos nosso foco em preconceitos estúpidos.
Ensaio Sobre a Cegueira representa os rumos que a sociedade ocidental moderna vem tomando. O pré-julgamento, o preconceito, o egoísmo, o materialismo, são alguns dos péssimos elementos que nos cegam para o mundo. O filme retrata muito bem isso e mostra, como sendo a única salvação, que é necessário o isolamento e finalmente nos faz descobrir de que dependemos uns dos outros e que enxergar de fato o próximo é, acima de tudo, um exercício de tolerância e amor. Note que no filme ninguém tem nome. Percebeu isso? São apenas o "Médico", o "Contador", "a Mulher do Médico", o "Garoto Estrábico", e por aí vai. E não é justamente assim que costumamos definir, de maneira simplista e injusta, aqueles que nos cercam?
O elenco está pra lá de bacana - tem a Julianne Moore, o bonitão Mark Ruffalo, Alice Braga e Danny Glover, que na minha opinião teve seu talento e a beleza do seu personagem tão pouco explorados.
Existem cenas que chocam, como a do estupro coletivo, mas também há cenas fantásticas como as duas cenas da chuva - A primeira é onde todos se sentem aliviados, mesmo que ainda cegos, purificados pela água que cai. A outra, é quando as personagens da Julianne Moore, Alice Braga e Yoshino Kimura estão tomando banho na chuva. Sorriem porque estão libertas e renovadas. É comovente.
O filme abriu Cannes, no ano passado, e o Times escancarou: "É deprimente!". Sim, é deprimente, concordo. É também pesado, é denso demais, é a realidade. É pra esse caminho que a humanidade está se direcionando e a maioria das pessoas parecem nem enxergar isso. Parabéns ao criador - o Saramago e ao olho do Meirelles.

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